DIÁRIO DO PORTAL: A HIPOCRISIA DA IMPRENSA

Nunca fui adepto da máxima de que jornalista não deve ou não pode tomar partido em eleição, como se fosse um magistrado. Mesmo antes de ter ingressado no ofício, e ainda mais agora que o Supremo banalizou a profissão ao decidir pela não necessidade de curso específico para o exercício da função. A minha opinião é de que jornalista é um profissional como tantos outros, pessoa normal como qualquer outra. Sua função não está acima a do garçom ou a do pedreiro, portanto, deve também agir como pessoas comuns, como pedreiros e garçons.

Também a máxima de que não é papel da imprensa eleger alguém é conto de Papai Noel. Beira o cinismo dizer que ela não tem lado na hora de escolher candidatos e ideários a seguir. Essas idiossincrasias ao longo do tempo colocou o jornalista como uma espécie de magistrado quando o assunto é tomar posição. Pura hipocrisia. O papel da imprensa é informar, isso é fato. E informar com isenção, não de acordo com a conta bancária do personagem do fato.

Por baixo do pano a imprensa, seja ela nanica ou a grande mídia, sempre esteve de um lado ou outro, desde 01 de junho de 1808, quando foi fundado o Correio Brasiliense ou em 10 de setembro com a fundação da Gazeta do Rio de Janeiro saudando a chegada da família real ao Brasil. Ambos nasceram sob a égide do capital.

Ao revisitar o passado (e o presente) da imprensa nacional vai se descobrir que ela sempre esteve a serviço dos interesses de grupos econômicos, aliás, a sua fundação se deu para esse fim. Todo jornal, revista ou rádio tem a sua preferência, embora alguns donos de jornais posem de independentes. Isso não ocorre apenas em grotões do interior, como aqui, onde as preferências são escancaradas, embora os proprietários tentem de todas as formas dissimularem a realidade pensando que o leitor é néscio, incapaz de ter opinião própria.

Em nível nacional O Estado de São Paulo sempre esteve à frente dos interesses econômicos da elite em defesa de seus candidatos, assim como a Folha de São Paulo e a Revista Veja e Rede Globo. A despeito de suas afirmações acerca de aspectos ideológicos de imparcialidade, apartidários, independentes e comprometidos com a verdade, há um flagrante alinhamento às teses do neoliberalismo, e se isso ocorre a imprensa deixa de ser pluralista como se autodenomina. De outro lado da trincheira se colocam outros órgãos de comunicação, como Carta Capital e Isto É, claramente governistas e em defesa de seus próceres líderes. Em suma, há muita canalhice nessa dissimulação toda e muita mentira nos aspectos ideológicos de toda a mídia nacional, que é acompanhada com fiel balizamento pelas mídias menores dos grotões do país.

Em tese está também é a opinião de Millôr Fernandes: Jornalista, escritor, dramaturgo, tradutor e chargista, falecido em março deste ano, um dos principais nomes da imprensa brasileira do século XX. “A imprensa brasileira sempre foi canalha. Eu acredito que se a imprensa brasileira fosse um pouco melhor poderia ter uma influência realmente maravilhosa sobre o País. Acho que uma das grandes culpadas das condições do País, mais do que as forças que o dominam politicamente, é nossa imprensa. Repito, apesar de toda a evolução, nossa imprensa é lamentavelmente ruim. E não quero falar da televisão, que já nasceu pusilânime,”.

Uma forma de acabar com esse jogo de enganação seria a imprensa assumir que tem lado, que defende ideias deste ou daquele pensamento político, sem, obviamente, cerrar suas páginas para que outras correntes se manifestem. É mais honesto com o leitor. Pelo menos quando ele acessar as páginas do jornal estará consciente do que vai encontrar lá. Porém, está longe de este ciclo de mentiras se romper. Os impolutos serviçais da informação continuarão posando de ideólogos da imparcialidade e se achando que para eles têm que ser reservadas as melhores mesas dos restaurantes, onde impõe serem servidos antes dos demais e esperando reconhecimento pelos seus “grandes serviços prestados à democracia”. O pior é que muito deles tem essa farsa com verdade absoluta.

Vitor Paniágua

REDAÇÃO HOJERONDONIA.COM





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