CANAL ARTIFICIAL AJUDA NA PIRACEMA

Um grande temor se espalhou pelas comunidades ribeirinhas e pescadores do Madeira à época em que foi anunciada a construção das usinas de Jirau e Santo Antônio. O questionamento era como se daria o processo da piracema, momento em que os peixes percorrem o leito do rio em direção à nascente, para desovar e manter ativo o ciclo biológico da espécie.Como parte de suas obrigações em função da instalação da hidrelétrica, a Santo Antônio Energia (SAE) desenvolveu um Sistema de Transposição de Peixes (STP) que induz os cardumes a vencer a barreira da usina através de um canal artificial.

O canal está localizado na Ilha do Presídio, próximo à margem direita do rio e este é o primeiro ano que ocorre a piracema após a instalação da hidrelétrica. Para reproduzir este ambiente ideal, ao qual os peixes acostumaram-se antes da chegada do empreendimento, são usados gabiões – blocos de pedras envoltos em uma tela de arame – que condicionam o curso da água e criam pequenas corredeiras, tímidas perto das cachoeiras que existiam no Madeira.

Segundo o biólogo da SAE, Alexandre Marçal, essa busca por um ambiente semelhante ao que os peixes tinham antes é essencial para que a piracema aconteça. “O canal é uma forma de controlar o fluxo da água, pois é por ela que o peixe se orienta. Para que o peixe passe pela barragem é necessário que ele tenha esse estímulo. Como eles estavam acostumados à cachoeira o STP reproduz essas condições”, sintetizou.

Para reproduzir esta “condição ideal” a equipe de especialistas que se debruçou sobre a tarefa passou 24 meses fazendo experimentos na Cachoeira do Teotônio e estudando a vazão, o fluxo da água e o comportamento dos peixes. “Depois disso planejamos a construção deste canal, com quase mil metros de comprimento e uma profundidade entre 3,5 e 4,5 metros”, especificou Marçal.

VARIEDADE DE ESPÉCIES

O rio Madeira é reconhecido pela riqueza de espécies que habitam suas águas. A grande variedade de peixes, de couro e de escamas, são a garantia de sobrevivência para muitas das famílias ribeirinhas e que exploram a cultura de subsistência. De acordo com a equipe que monitora os trabalhos realizados no STP, quase 30 destas espécies já passaram pelo canal.

Uma das empresas contratadas para atuar no projeto realiza um monitoramento mensal dos peixes e ajuda a identificar espécies. Além disso, medem e pesam os animais para constatar qual o ciclo de vida do pescado. Outra ferramenta utilizada pelos especialistas para avaliação dos pescados é a radiotelemetria.

“Temos antenas espalhadas em diversos pontos do canal e através delas captamos sinais através de um radiotransmissor, alojado na barriga de alguns peixes. Com esse rastreamento monitoramos os hábitos destes animais, inclusive dentro do canal. Isso me permite readaptar esse ambiente, se necessário, permitindo que ele complete a piracema”, assinalou o biólogo.

Além deste, a equipe com mais de 50 especialistas ainda dispõe de uma sonda que reproduz imagens semelhantes a de um ultrassom. Segundo Marçal, esse dispositivo é necessário em função do tom escuro da água, que não permite uma observação a olho nu. “Com essa tecnologia vejo o peixe dentro da água. Na verdade, uma tecnologia complementa a outra nessa necessidade de entender os peixes e o seu comportamento”, pontua.

A SAE investiu um total de R$ 140 milhões na execução desta obra, que ainda prevê a construção de mais uma entrada de acesso para os cardumes. Além de empresas, estão envolvidas no projeto a Universidade Federal de Rondônia (Unir) e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

REDAÇÃO HOJERONDONIA.COM





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